segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Por que eu parei de escrever diários

Quando eu fiquei com medo de perder o namorado (que custei tanto a conquistar, por muitas razões...), assim que descobrimos o sexo juntos e em pleno auge da nossa relação, passei a frequentar e em seguida a morar na casa dos meus sogros. Hoje me arrependo, não pelo namoro, mas por ter deixado minha mãe mais sozinha do que ela já era, em algumas ocasiões especiais e de final de ano. Se eu soubesse que ela ia morrer daquele jeito e tão depressa, teria ficado muito mais ao seu lado. Os últimos diários que escrevi foram em italiano e já morando com os sogros, porque tinha medo de que o meu namorado lesse ou pegasse os diários. Na verdade, me lembro de ter escrito qualquer coisa sobre a doença terminal da minha mãe, enquanto ela ainda estava aqui. Depois disso, nem mais uma linha consegui escrever e por longos dois anos quase não conseguia chorar. Sim, no enterro dela eu chorei, mas depois daquele triste adeus, em casa, sozinha ou com a minha bebê - que na época tinha só sete meses e parou de mamar no peito - não consegui mais verter uma lágrima. Era como se tivesse secado tudo em mim, até a vida. Acho que se não fosse pela minha filha eu teria caído numa depressão grave. Com o meu então namorado - pois ele não gostava de ser chamado de marido, nós não éramos casados - eu não falava sobre isso, aliás, não falava com ninguém sobre a perda da minha mãe justo quando eu descobria o que era ser mãe, justo na hora em que eu mais precisava dela e era ela quem cuidaria da nossa pequena. Não, definitivamente, não havia mais tempo nem condições de escrever, até porque a minha revolta era tão grande que ao mesmo tempo eu desejava tê-la em paz com Deus, livre de todo aquele sofrimento horrível, mas também não aceitava o vazio que ela deixou.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Meu marido merece um capítulo à parte

Como disse, queria recomeçar a minha história do ponto em que parei. Mas nesses ultimos dias, fiquei tão chateada com o meu marido que resolvi escrever isso agora. Sim, preciso desabafar primeiro que estamos juntos há mais de dez anos, já temos uma flha de cinco e recentemente um menino de oito meses. Como pai, não tenho palavras para elogiá-lo, pois ele é o melhor (até exagerado em certos mimos) que pode ser. Mas, tem o grave defeito de ser muito perfeito e organizado em tudo, exigente demais consigo e com os outros. E essa rotina pesada de trabalhar oito ou nove horas por dia (primeiro turno de fábrica) e mais dois filhos numa casa enorme que ele fez gosto de construir está esgotando suas forças. Na sexta-feira, ele saiu depois das seis da tarde pra jogar futebol de campo na escolinha aqui perto de casa (como costuma fazer uma vez por sermana, desde que acabou a Faculdade no semestre passado) e só voltou depois das dez horas da noite, sabendo que eu estava muito atarefada com a tal faxina de final de ano, lavando as cortinas novas da nossa casa (ou devo dizer, casarão, castelo, mansão...) Ele costuma vir sempre cedo, mas foi tomar cachaça, ficar fora só pra variar e chegar só depois que eu tivesse dado conta de cuidar das crianças e de limpar tudo. Claro que não se pode mesmo acreditar que um homem estaria preocupado em ajudar a mulher com os afazeres domésticos, ainda que ele não suporte encontrar nada fora do lugar (mesmo com duas crianças numa casa de mais de trezentos metros quadrados) e sem condições de ter uma empregada ou diarista. Ele reclama que chega cansado do serviço, quer comer e dormir. Ah, quer uma mulher sexualmente linda e disponível sempre também. Mas não faz muito esforço pra perceber que eu estou me desdobrando pra dar conta de tudo sozinha e ainda faz isso comigo num dia em que eu precisava apenas que ele ficasse com as crianças e as colocasse pra dormir. Decepcionada, não. É pouco, fiquei com muita raiva... mas vpra entender melhor, eu teria de contar outros detalhes da nossa relação.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Não sei por onde começar

Escrevi tão poucas linhas e já estou me sentindo melhor. Só pelo fato de ter tomado essa iniciativa e por ter tido coragem de expor a minha história. Difícil é saber exatamente o que posso contar, o que devo preservar para não ofender ou expor alguém querido. A única certeza que tenho é a de que quero escrever novamente, quero desabafar o que o meu coração precisa, quero ser livre ao menos aqui, para escrever. Nem meu marido, nem minhas poucas e boas amigas sabem hoje como estou me sentindo, o que tenho vontade ou não de fazer. Sempre fui muito fechada e tímida durante a minha adolescência, mas depois de ter me tornado professora concursada na rede estadual do ensino público e depois de ter sofrido para conquistar e fisgar o meu único e atual marido, achei que tinha mudado. E mudei, por fora, eu acho. Ou só não mudei quando o assunto sou eu. Falo de tudo, falo demais até, mas não tenho vez e voz para falar de mim. Talvez por isso eu precise tanto escrever agora, para buscar uma autoestima que ficou perdida lá no passado - há cinco anos e meio - quando eu não sabia mais o que pensar da vida, dividida entre a chegada da minha filha e a perda inesperada da minha mãe, dividida entre a depressão que o meu marido teve e o fato da nossa casa não ter ficado pronta a tempo e nós termos de morar de favor com os meus sogros.
É mesmo dificil saber por onde começar, mas acho que deve ser do ponto onde eu parei.

Escrever é um desabafo

Parei de escrever há cinco anos e meio, desde que a minha filha tinha seis meses e de repente a minha mãe faleceu de um câncer tão agressivo que nem deu tempo de saber como e onde começou. Não consegui mais escrever uma página de diário, apesar de ter todos os meus diários guardados desde a minha adolescência. Tenho trinta e três anos e sempre gostei de escrever. Como disse, minha vida quase toda tenho registrada, mas os últimos anos tornaram-se uma página em branco. Muitos foram os motivos que me impediram de escrever como antes, talvez eu só esteja tentando agora por uma necessidade só minha e que ninguém jamais compreenderia. Senti e sinto muito a falta de escrever. Sempre achei que fosse criativa e adorava poesia, mas o meu maior prazer ou desabafo sempre foi registrar a minha própria história. Não porque eu queria que alguém me conhecesse melhor ou soubesse da minha vida (tão insignificante, tão simples aos olhos do mundo), mas por terapia que eu mesma inventei para não ter que pagar psicanalista ou qualquer especialidade médica que talvez diagnosticasse algum tipo de loucura.
Taí, uma palavra que eu nunca entendi bem os significados, mas que cabe bem no ritmo frenético e alucinado do meu dia-a-dia: loucura!
Vou escrever um pouco aqui para ver se alivia essa carga de sentimentos reprimidos que estou acumulando e já percebi que não me faz bem. Mais à frente, vai ficar claro que esta é mesmo uma nova fase da minha vida em que estou tentando superar - ainda que sozinha - algumas angustias e frustrações. Agora, além dos diários velhos e empoeirados que tenho, um dia, meus filhos vão ler também um novo diário, mais moderno e menos intimo, porém único e verdadeiro.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012